Viagem à bordo pelos rios amazônicos
Quando próximo da mata com o barco correndo à beira, ouve-se o alarido dos pássaros; às vezes é possível vê-los reunidos nas copas das árvores, descansando, brincando, ou ninificando, talvez...
Ouve-se também, gritos de macacos e outros
animais. Veem-se capivaras, cobras, ariranhas e raramente até jacarés, que assustados mergulha rapidamente na água; sua presença, no entanto, é mais frequente nos lagos e paranás, “pequeno braço de rio separado deste, por ilha”.
O ribeirinho relutante, busca a sobrevivência
remando em sua canoa, soltando ou colhendo a rede. O peixe serve de alimento para toda família, podendo também ser comercializado entre os moradores da própria comunidade. Ao redor de casa, quase sempre de madeira e em forma de palafitas, cultiva-se a mandioca, (macaxeira) principal alimento; Criam-se animais, colhem-se frutos nativos, etc. À noite nas margens dos rios e ao longo das vilas e povoados a luz contrasta-se com a escuridão. Seja energia elétrica ou a motor, dá um colorido todo especial a quem se aproxima uma vez que a claridade fica refletida na água
A viagem continua. O barco ou navio segue moderadamente, enquanto o rio de vez em quando se divide, une-se em seguida, dando origem as ilhas, lagos e paranás. Os afluentes também são rios de grande porte, alguns deles são semelhantes em potencial e em sua foz não raramente, ocorre o fenômeno das águas distintas. As comunidades aos poucos vão surgindo. Umas com maior número de pessoas,outras, porém, menor, nas quais sempre se encontram pequenas igrejas, a maioria católica, o que lembra a colonização e a catequese imposta aos nativos pelos jesuítas portugueses. Grandes extensões de quilômetros separam as cidades.
No passado, pequenos vilarejos que embora lentamente e, em virtude da dificuldade de acesso restrita à região, cresceram e se desenvolveram não obstante as distâncias. Os pequenos portos, ou simplesmente balsas ou ainda flutuantes, são a porta de entrada das cidades. Através delas movimenta-se o comércio, bem como o tráfego da população. As embarcações atracadas na costa representam verdadeiros cartões postais e inspiram poetas e artistas a cultuá-los.
Seguindo em qualquer rio que seja de água negra ou clara, nota-se com frequência a presença dos botos, para os quais todos os olhares se convergem inevitavelmente.
O encontro das águas
O “encontro das águas” é outra rara grandeza, algo fascinante que mostra o poder de águas de cores diferentes que se encontram, mas por causa de suas densidades, velocidades e acidez, em princípio não se misturam.
Belos contornos... Margens exuberantes, ora, imensamente largas, ora, ligeiramente estreitas confinam no seu seio suntuoso a magia itinerante dos encantos. Tantas virtudes, quantas proezas, mistérios, fenômenos e segredos, coisas que nem o próprio homem com toda sua sabedoria e renitência conseguiu desvendar.
Na realidade viajar de barco pelos rios amazônicos não é apenas uma forma de transporte, é mais que isso: É está muito mais perto da natureza, cuja grandeza inestimável e a altiva beleza, inerentemente infindas, nos colocam em contato verdadeiro com um dos mais importantes ecossistemas do planeta onde podemos contemplar a vida em toda sua plenitude.
Por: Abelardo Noqueira