O tempo
O tempo
É o tempo, mediano,
Nem custoso, nem fugaz.
Não caminha apressado,
Também não fica pra trás.
Para poucos, tempo é tempo,
Para muitos, tanto faz...
Veja o tempo que passa calmamente
Num compasso continuo, regular.
E caminha sem medo de cansar,
Mas não para, não corre e nunca sente.
Não espera por qualquer ser vivente,
Entra e sai, não precisa de um aval.
Tudo leva que seja o bem ou o mal,
Indistinto, jamais faz distinção.
E de tudo, que existe sobre o chão,
Ele vê, cuida e sabe o seu final.
Não se perde nas curvas do caminho,
O seu rumo, pois, não se desnorteia.
Os seus passos se fincam pela areia,
Os seus pés são imunes ao espinho.
Solitário, a caminhar sozinho,
Ele segue cadente sem cessar.
Não avança afanado pra chegar,
Não espera por quem ficou de vir,
Quem deseja na vida lhe seguir,
Não atrase nem tente ultrapassar.
Indelével, à luz de tal razão,
Disfarçado na face do ser, gente.
Inaudível imensuravelmente,
Quão informe e alheio à vastidão.
Inodoro, sem cor e sem feição,
Cujos traços quem ver, saberes tem.
E sereno, sem garras, sem, também,
Pretender demonstrar sua grandeza,
Não se furta das leis da natureza,
Todavia, simplesmente é o além.
Desta forma presente, ao seu contento,
Mas, visível ou sem se perceber.
Obscuro no âmago do ser,
Inerente ao sábio pensamento.
Pois, assim, sem que se ouse qual invento,
Dele, enfim, a lograr toda magia,
Quem vier conceber essa harmonia,
Com efeito, provecto e audaz.
Vai notar, pois, que o tempo é perspicaz,
Muito, e mais do que a vã filosofia.
Autor: Abelardo Nogueira