Capistrano de Abreu, O príncipe dos historiadores brasileiros.
"Príncipe da nossa história,
Em Maranguape nasceu.
Eterna é sua memória
Oh! Capistrano de Abreu."
Cordel
Tal ser criaste ó Deus Onipotente,
Ao qual, valores outorgou um dia.
Entre as virtudes ter sabedoria,
Infinda sorte gozo de quem sente.
E assim ousando tão distintamente,
Do maior dos agrados a saber,
Pois, a vida, razão pra se viver,
Eis que fora no ventre, agraciado,
E para edificar o seu legado,
Em honra e glória veio a nascer.
Em Maranguape, berço preferido,
De outros eternos inda que mortais,
Um homem simples, grandes ideais,
De resplendor tamanho e desmedido,
Que logrando do bem lhe deferido,
Trouxera à luz da vida o véu da glória.
Predestinado à graça da vitória,
Muito fazendo sem se renegar,
Deixou nas linhas do seu paginar
Inapagáveis traços da história.
Sítio Columinjuba, pé da serra,
Plaga pequena, calma e verdejante.
Magia campesina e instigante,
Beleza que aos olhares se descerra.
Contida no frescor que vem da terra,
Altiva a provocar encantamento,
E Deus ao promover o seu invento,
A um gesto grandioso fez, de fato,
Perpetuar, porém, tamanho ato,
Num simples ser presente num rebento.
Já era outubro ao definhar o mês,
Quando nasceu o mestre Capistrano.
Tão certo, pois, se registrou o ano,
Mil oitocentos e cinquenta e três.
No Brasil, o Império tinha vez,
A elite explorava a escravidão.
Os seus pais viam sua vocação
Que crescia ao mostrar-se um bom menino,
E tão logo descobre o seu destino,
Na cartilha da alfabetização.
Sua primeira aula a frequentar,
Ficava a três quilômetros além.
O livro que existia era, também,
O único que havia no lugar.
Servia para o mestre-escola usar
No ofício da escrita e da leitura.
Porém, seguindo a lida com bravura
Até Ladeira grande, caminhava,
Ali, portanto, a saga começava,
Do mais sublime vulto da cultura.
Seguiu pra Fortaleza e, como o tal,
Por três colégios, posto que passou.
Além do “Educandos” frequentou,
Também, o Seminário episcopal.
O Ateneu marcou seu ideal,
Depois para o Recife foi mandado,
E em face de ter gosto apurado,
Primando pela arte em terra urbana,
Chegou à Capital pernambucana
Visando ser, então, matriculado.
A Fênix, criara ao voltar,
E a “Escola popular” pra juventude.
A qual sem praticar falsa atitude,
Agia pelo ato de ajudar.
Àqueles que não podiam pagar,
Dava-lhes o direito à educação.
Portanto, Capistrano foi, então,
Um grande defensor dos mais carentes,
Contrariando até intransigentes
Católicos de forte oposição.
Também tinha distinta afinidade
Com a loja maçônica e, havia,
Em si, grande afeição à trilogia,
Mormente ao princípio “igualdade”.
Contudo, divergindo na verdade,
Por se mostrar agnóstico e ateu,
Sua presença enfim, se dissolveu,
E embora de maneira, alijado,
Suas ideias, fê-lo respeitado
Por todo estado que o reconheceu.
Setenta e cinco o ano era abril,
Aos vinte e três ainda incompletos.
José de Alencar, dos mais diletos,
Dos escritores, ora, no Brasil.
O convidou pra ir morar no Rio,
De cujo Império era a Capital.
Tão pronto confiou-lhe o seu aval,
Por entender que muito ajudaria
Estando ele onde acontecia
A grande efervescência cultural.
Eis que partiu deixando o seu torrão,
Ficou saudade certamente, cá.
Seguiu a bordo do Vapor guará,
Aos treze dias sob cerração,
Quando avistou o seu mais novo chão,
Era domingo, a hora, dez e meia.
Desembarcou com sua mala cheia,
Lisonjeado posto que ficara,
Depois que atravessou a Guanabara
Sentiu-se em casa mesmo em terra alheia.
Ali, foi recebido com presteza,
Visconde Jaguaribe o acolheu.
Enquanto curioso comoveu,
Deixando revelar grande certeza
Que tinha de conhecer a nobreza,
Os membros da família do reinado.
Por sorte, porém foi recomendado,
Ao posto de caixeiro pra vender
Os livros da famosa Garnier,
Permanecendo enfim, como empregado.
Ao mesmo tempo, enquanto vendedor,
Entre as funções, as quais desempenhava,
A bem-dizença sempre lhe custava
Ter que falar do livro ao comprador.
Mas sem demora ou nenhum pudor,
Pra um freguês mostrou-se contundente
Ao criticar um livro e, descontente,
A Garnier sem hesitar, porém,
Desconcordando decretou, também,
Sua saída imediatamente.
Prestou concurso com aprovação
Para a cadeira História do Brasil.
O Externato Pedro segundo viu,
Foi o primeiro em classificação.
Por nove anos cumpriu a missão,
Ao seu currículo também somou,
De tal maneira que se habilitou
A continuar tamanha abordagem
E concluiu a obra de Varnhagem
Com tanto esmero, pois, que o superou.
Sempre envolvido no mundo livreiro,
Chegou à Biblioteca Nacional,
Onde foi nomeado oficial,
Tornando-se do livro um companheiro.
Colaborou no Globo, o pioneiro,
Gazeta de notícias veio a ser
O grande redator e, por saber,
Lidar com tudo aquilo que fazia,
O seu papel tão bem desenvolvia
Que a outras coisas pode conceber.
Avaliou criteriosamente,
Sumária tal ação e, compulsória,
Contextualizou a nossa história
Com base num estudo diferente
Da civilização, meio ambiente,
Geográficos e até raciais.
Psicológicos, todavia, e mais,
Econômicos entre outros fatores
De todos, todos foram promissores,
Servindo para tantos ideais.
Quão fonte devotou-lhe sapiência,
Munido pelo dom posto que ousou.
Em várias vertentes mergulhou,
A outros seguimentos deu ciência.
Da sorte recebeu larga incumbência,
A qual sempre galgou com maestria.
Foi crítico das letras, todavia,
Político, linguista e escritor,
Geógrafo e historiador,
Além de afeito a sociologia.
Mormente dedicou-se com prazer
Ainda, ao ofício humanista.
Filólogo, também naturalista,
Buscou como etnólogo conhecer
Conflitos e razões de cada ser,
Chegando ao mais distinto patamar.
Cumpriu o seu papel sem reclamar,
Qual digno, bem mostrou porque pertence,
A estirpe do bom povo cearense
E orgulho deste querido lugar.
Em face da grandeza e da bravura,
Capistrano logrou conhecimentos.
Diversos, quanto vasto, os seus intentos,
Tornou-lhe um homem de rica cultura.
E por ser detentor de tal ventura,
Escolheu os caminhos mais certeiros,
Gozando pelos atos derradeiros,
O mérito de ser considerado
O príncipe por todos consagrado
Dos historiadores brasileiros.
De fato, promissores os seus anos,
Setenta e quatro foram no total.
No Rio de Janeiro, a Capital,
Qual saga concluiu sem desenganos
Deixando-nos, partiu pra outros planos,
Ficou, pois, de tão certo o seu legado,
Escrito, nunca será apagado,
E quem é sabedor jamais esquece.
Por tudo, enfim, a história lhe agradece,
Ao Mestre a gratidão, muito obrigado!
Autor : Abelardo Nogueira