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Massilon Silva *

O CORDEL E OS CONCURSOS

O CORDEL E OS CONCURSOS

Massilon Silva *


Mesmo não sendo este cronista um adepto das redes sociais e das chamadas publicações eletrônicas, forçoso é reconhecer o benefício delas advindos para a cena cultural, embora sejam eles pontuais. Aqui refiro-me exclusivamente à disseminação de matérias sobre a realização de concursos locais, nacionais e mesmo de abrangência internacional, o que permite aos que escrevem seus textos vê-los publicados e lidos por milhares de pessoas, de maneira especial quando selecionados em certames os mais variados.

Diversos são os órgãos congregantes dos mais variados autores de obras literárias que têm aproveitado a oportunidade para divulgar obras premiadas em concursos. Os que fazem uso com maior frequência desse método, até onde sei, são a UBT - União Brasileira de Trovadores e a OMT - Organização Mundial de Trovadores. Estas duas organizações promovem grande número de concursos todos os anos, dão extensa publicidade pela Internet, inclusive dos regulamentos, recebem os textos concorrentes por e-mail ou WhatsApp e, também por esses instrumentos divulgam os resultados com rapidez e segurança incríveis.

Outros campos da arte literária socorrem-se dos concursos para a produção de Coletâneas e Antologias, alcançando ótimos resultados neste mister. Em todo o Brasil vemos diariamente publicados em jornais, revistas e na Internet, chamamentos para certames de poesia , contos, crônicas, romances e seus respectivos resultados, com premiações em pecúnia, publicação de livros, até as mais simples como medalhas ou diplomas de participação onde constam

as classificações de cada concorrente. Esses certames são de fundamental importância para os autores, por verem suas obras entre as mais destacadas e, em consequência, divulgadas.

Tal fenômeno infelizmente não se verifica no seguimento da Literatura de Cordel, pelo menos com a frequência desejável. Existem, é verdade, concursos de cordel promovidos por algumas editoras a exemplo da Editora e Cordelaria Castro, de Petrolina e mais recentemente da Cartola Editora. A primeira produziu um excelente Cordel Coletivo com o título Folclore Nordestino, que foge ao modelo do cordel coletivo tradicional, sendo resultado de uma seleção textos, enviados por autores de todo o Brasil e escolhidos 9 deles para publicação. Se não foi propriamente um concurso com classificação de primeiro a nono lugar, mas uma seleção já se mostra como boa iniciativa. Outra ação relevante é a que foi desenvolvida recentemente pela Cartola Editora, com a publicação de uma antologia intitulada Um Encontro de Cordel, resultado de um concurso realizado com a participação de cordelistas de todo o país. Pela primeira vez os escolhidos receberão cotas pela venda do livro em todas as plataformas da web e livrarias físicas, o que só era feito até então pelas editoras que trabalham exclusivamente com cordel.

Sem sombra de dúvida, são duas iniciativas louváveis.

Outra ação digna de registro está em andamento na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Sua Secretaria Municipal de Cultura promoveu um concorrido concurso de cordel, cujo resultado será tornado público no próximo dia 26, com cerimônia de premiação prevista para o primeiro dia de agosto na biblioteca municipal de Rio Comprido, também na Cidade Maravilhosa.

Essa forma de promoção efetiva da literatura de cordel pelo Poder Público merece os aplausos não apenas das pessoas envolvidas direta ou indiretamente com a atividade cordeliana, mas de toda comunidade intelectual. Entendemos que o exemplo da prefeitura carioca será seguido por suas congêneres Brasil em fora, pelos Estados e pela União, através de seus órgãos de educação, cultura e até mesmo de turismo.

Neste cenário (e aqui reside a pedra de toque desta crônica), a ausência das Academias de Cordel que se proliferaram nos últimos anos se faz sentir. É fato que algumas têm feito incursões nessa área, mas ainda de forma tímida. Temos exemplos de Coletâneas e Cordéis Coletivos produzidos pela Academia Sergipana de Cordel - ASC, Academia de Cordel do Vale do Paraíba - ACVP e outras, porém esses louváveis esforços não produzem os resultados que normalmente se obtém em um concurso, por motivos óbvios. Os concursos possibilitam ao escritor a oportunidade de ver seu trabalho reconhecido entre os melhores, e com isso alcançar um maior número de consumidores do seu produto, com um retorno financeiro mais satisfatório, este que é um desejo de todo artista, seja ele erudito ou popular, mesmo daqueles que propalam aos quatro ventos escrever apenas por amor à arte. Falsa modéstia.

Sabemos que em regra a realização de concursos implica custos financeiros, tempo, pessoal de apoio disponível para organizar, selecionar, classificar, promover lançamentos de obras, etc. etc..., isso é fato público e notório. Até mesmo a distribuição de medalhas ou simples certificados de participação é cousa que demanda tempo e disponibilidade financeira, mas com uma boa dose de dedicação é possível chegar lá, mesmo que timidamente, a experiência tem demonstrado.

Às academias não cabe apenas congregar, reunir os cordelistas mas, na medida do possível, promover suas obras.

Sabemos que até mesmo o comparecimento às assembleias regulares é tímido, e às vezes até aquelas não têm número suficiente para serem instaladas. Este é outro problema, que deve ser enfrentado e resolvido com ações internas previstas nos respectivos estatutos. Os concursos, voltemos ao ponto, seriam uma forma aparentemente eficaz, de estimular a participação dos imortais nas atividades acadêmicas e, em nosso modo de vista, poderiam sentir um impulso maior se partissem de nossa entidade mais proeminente, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel - ABLC. Um certamente por ela promovido e capitaneado, teria o condão de incutir nas demais o interesse e aguçar e o entusiasmo tão necessário para que se leve a cabo um evento de tamanha importância e magnitude.

Deixamos aqui a conclamação às diversas entidades de cordelistas distribuídas em boa hora pelo país, no sentido de que desenvolvam esta que está elencada em suas principais atividades - a promoção dos seus membros -, e a ela acrescentem a realização periódica de concursos internos ou externos, e aos confrades, que se empenhem cada vez mais na promoção de seus trabalhos.

E vida longa ao cordel.



*Escritor e poeta, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.