Cultura

BONS VENTOS PARA O CORDEL *Massilon Silva

BONS VENTOS PARA O CORDEL *Massilon Silva

  Em meio aos sinais de dias tempestuosos que ameaçam o bom desempenho do cordel, com destaque para a baixa qualidade da produção intelectual que desaba sobre os leitores e inunda a mídia, às vezes até por culpa desta, emergem das águas desse verdadeiro mar revolto, aqui e ali ilhas de prosperidade.

 Uma dessas paragens férteis para a literatura iniciada em solo pátrio por Leandro Gomes de Barros é a conjunção formada pelo alinhamento entre a Universidade Estadual da Paraíba - UEPB e a Academia de Cordel do Vale do Paraíba - ACVPB, cujos resultados positivos são visíveis. Um exemplo do que ali se realiza foi o I Concurso de Cordel "Jackson do Pandeiro - 100 Anos do Rei do Ritmo", cujo resultado foi trazido a conhecimento público na última sexta-feira (13/12), no qual sagrou-se vencedor o poeta Antonio de Pádua Gomes da Silva que a partir deste evento passa a compor o primeiro time dos cordelistas brasileiros.

  A realização de tão marcante certame  já foi objeto de notícia neste espaço, ocasião em que aplaudimos a iniciativa, considerando apenas como nota destoante o fato de a participação ser restrita aos poetas paraibanos. O brilho do concurso não foi ofuscado, porém a abrangência seria maior sem a condicionante imposta, que por certo será revista em edições vindouras.

 É com bons olhos que enxergamos a interação Cordel/Universidade/Estado hoje concretizada pela presença de membros da ACVPB e Academia Sergipana de Cordel - ASC nos Conselhos de Cultura de suas respectivas unidades federativas. Na Paraíba a ascensão ao Conselho pelos cordelistas Marconi Araújo e Neto Ferreira deu-se em novembro e em Sergipe no último dia 10, com a posse da cordelista Izabel Nascimento, que é também presidente da ASC. Em ambos os casos as perspectivas de progresso e elevação do cordel são patentes, considerado o trabalho incansável e elogiado que vêm realizando as pessoas de cuja investidura falamos. Os bons ventos são sentidos e os cordelistas precisam hoje mais do que nunca direcionar suas velas no sentido favorável a uma boa navegação, e mais ainda, uma ancoragem em porto seguro.


BONS VENTOS PARA O CORDEL II

 O apoio estatal não tem faltado, seja na forma de legislação regulamentadora da profissão, seja pelo reconhecimento via IPHAN da literatura de folhetos como patrimônio histórico e cultural, ou ainda pela edição de leis, decretos e regulamentos que permitem seu ensino nas escolas como parte integrante do currículo tanto em estados como em municípios Brasil em fora. Por outra banda, eventos de grande ou pequena envergadura mas de não raquítico significado são levados a efeito quase diariamente com apoio de órgãos estatais. Um exemplo bem próximo em medida temporal foi o lançamento no último dia 12 da obra Transbordando Poesia, do poeta Chico Mulungu, que teve lugar no Casarão da Cultura da cidade de Guarabira/PB, com apoio da Prefeitura Municipal através da Secretaria da Cultura e Turismo do município. Embora não se trate de um trabalho estritamente cordeliano mas, como define o próprio autor, trata-se de "um livro de conteúdo mesclado, entre poesia livre em geral, cordel e soneto". O cordel ao lado do soneto não é pouca coisa.
  E tem mais, muito mais.
  A programação do Natal do Maranhão recebeu neste fim de semana (sábado) no centro histórico da capital São Luiz, a presença do cordelista cearense e hoje talvez o mais conhecido e aplaudido do país, Bráulio Bessa. Bráulio, que tem um quadro fixo no programa Encontro com Fátima Bernardes, na TV Globo, é ainda autor de dois best-sellers: Poesia que Transforma e Poesia com Rapadura.
   O Natal do Maranhão, registre-se, é uma festa promovida pela Secretaria de Estado da Cultura (SECTUR) daquele Estado nordestino, conhecido por sua tradição cultural.
  Para concluir, mais uma auspiciosa notícia, esta que nos chega do Rio de Janeiro com repercussão estimada para todo o mundo cordelista esparramado por "Europa, França e Bahia" para lembrar o livro de Eloisa Petti Pinheiro.
   Os alunos do Colégio João Cabral de Melo Neto no bairro carioca de Vista Alegre, fizeram uma amostra literária onde exibiram 3 cordéis por eles produzidos com orientação e supervisão das professoras Elena Correia, Silviane Moraes e Cláudia Fontoura, além dos cordelistas Erick Bernardes e Zé Salvador. As três obras mais uma de autoria da professora Fernanda Rangel, receberam o, digamos, "IMPRIMATUR" da ABLC; em janeiro irão para a Inglaterra, depois para a França e lá serão matéria nas aulas de Literatura Brasileira na Sorbonne. Já no final de março entrarão para o acervo da Biblioteca de Moscou.
 Estes são os bons ventos, cujo sopro favorável depende da qualidade literária, estética e linguística que se venha dar aos escritos. Esta sentença encontra ressonância nas palavras do cordelista e membro da ABLC Olegário Alfredo quando afirma que o o cordel "tem regras para ser escrito. Se não for feito dentro delas não é literatura de cordel".



*Escritor e poeta, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.