Cultura

Imigração italiana no Brasil

Imigração italiana no Brasil

“Cocanha”: o sonho distante

“A vinda para o Brasil na busca por terra e trabalho”

A “Cocanha” significa um lugar simbólico e utópico. Representa os desejos e as aspirações de um indivíduo ou de um povo inteiro e em determinado momento histórico. É o lugar onde poderiam se concretizar os desejos da fartura, da vida digna, da juventude e da felicidade eternas. Esse país imaginário foi responsável por alimentar fatos importantes da história a exemplo da imigração italiana para o Brasil.

No romance de José Clemente Pozenato, “A Cocanha”, o autor narra a vinda esperançosa dos imigrantes italianos para as terras a eles destinadas no Rio Grande do Sul no século XIX e  retrata igualmente a posterior decepção deles com as dificuldades aqui encontradas.

Os italianos chegaram ao Brasil num período em que a Itália passava por um processo de unificação que resultou numa grave crise econômica. A vida dos habitantes daquela nação foi afetada gerando um grande descontentamento por parte dos patrícios, o que os levou a cogitar a transferência para outros locais, onde pudessem ter  condições de prosperarem e de ter uma vida melhor.

O Brasil, nesse mesmo período, enfrentava uma grave crise de mão-de-obra, que começara com a proibição do tráfico negreiro em 1850. Com a assinatura da Lei Áurea em 1888, que libertou os escravos, a situação se agravou ainda mais.

Contudo, a abolição da escravatura não significou o fim do latifúndio. Os grandes proprietários conseguiram forçar o governo a ceder-lhes subvenções, conversões, reversões e outros artifícios. O latifúndio encontrava grandes dificuldades em conseguir a fixação de trabalhadores.

Por sua vez, os fazendeiros insistiam para que entrasse no Brasil um número de imigrantes muito superior às reais necessidades da lavoura. Assim, oferta de mão-de-obra era superior à procura e os trabalhadores se obrigavam a contentar-se com salários nem sempre justos.

De um modo geral, os italianos que emigravam para o Brasil tinham a intenção de se tornar proprietários de uma terra. O governo brasileiro facilitava ao imigrante a aquisição de terras por meio da conscientização de que a imigração, além de organizar a mão-de-obra,  também era a responsável pela formação de elementos que contribuiriam para a formação da nacionalidade do país.

Além disso, poderia enfrentar a concorrência de outros países como os Estados Unidos,  Argentina, Uruguai, dentre outros, que também procuravam conquistar a preferencia dos imigrantes.

A vinda dos imigrantes e de seus familiares, muitas vezes acabava tendo por consequência a transferência de outros parentes para o Brasil. Eles vinham não só com o objetivo de se reunirem à família aqui já estabelecida, mas igualmente com o desejo de ganhar a vida e prosperar na nova terra.

Com o passar do tempo, muitos imigrantes italianos adaptaram-se tão bem ao sistema de vida do Brasil, que acabaram se naturalizando brasileiros. A naturalização consistia em declarar obediência às leis do país e à Constituição e jurar ao mesmo tempo reconhecer o Brasil como sua pátria.

Já os italianos dos grandes centros urbanos eram mais resistentes à naturalização. Pois entendiam que era um crime de lesa-pátria, além de ficarem como renegados na comunidade italiana. Mas aos poucos acabaram por se adequar.

Os três estados do Sul do país, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná receberam verdadeiros colonos.  Verifica-se que a colonização da região Sul do Brasil, através de uma imigração europeia direcionada, foi um processo ligado a questões como a formação sócia territorial e a procura de novas terras para ocupar.

As primeiras colônias italianas formadas no Sul do Brasil se localizam na região da serra gaúcha. A presença dos italianos no Rio Grande do Sul é muito marcante. Em 1875 foram criadas as colônias Conde D’Eu e Dona Isabel que se tornaram atualmente as cidades de Bento Gonçalves e Garibaldi.

As atividades de destaque que desenvolveram foi o cultivo da videira, mas também o cultivo de grãos como o milho e trigo.

Já no Paraná, os colonos italianos pioneiros estabeleceram-se na região litorânea em 1878. Entretanto, Curitiba os atraiu e levou grande quantidade de italianos para a cidade e a região em torno. Como o Paraná faz fronteira com São Paulo e este integrava o cinturão que produzia o principal produto de exportação do Brasil na época, o café, os italianos do Paraná foram, em grande parte, empregados nas lavouras cafeeiras.

Em Santa Catarina, a presença mais significativa dos italianos foi no sul do estado e também na região Oeste, devido àqueles que vinham do Rio Grande do Sul. Foram criadas várias colônias italianas em torno de cidades como Blumenau e Brusque. Blumenau, à época, era colônia alemã e teve a sua volta a formação das colônias Rio dos Cedros, Rodeio, Ascurra e Apiúna.

Contextualizando a imigração italiana, especificamente na região Oeste Catarinense, que se situa no planalto meridional Brasileiro, essa mesma foi motivada por falta de interesse em certos momentos por parte do governo, de forma político/administrativo e consequentemente pelas disputas territoriais relevantes como: a Questão de Palmas (1892-95) e a Guerra do Contestado (1912- 16).


Do ponto de vista econômico, especificamente na região oeste catarinense, a erva-mate foi responsável direta e indiretamente pela fixação de diferentes grupos humanos e impulsionou a economia estadual. Pois a erva-mate já era produto cobiçado e rentável desde os anos de 1850, tanto nacional como internacionalmente.

A característica de um bom índice de chuvas, distribuídas durante praticamente o ano todo, sem apresentar longos períodos de seca e árvores configuradas geralmente largas e sempre verdes, tendo como componente maior representativo a Araucária foi fator crucial na ocupação da região.

Nessa paisagem, onde a utilização dos recursos naturais apresentados, bem como aqueles ligados direta e indiretamente, formou-se uma sociedade heterogênea englobando os grupos indígenas e caboclos, acrescida por descendentes de imigrantes europeus teutos e ítalo-brasileiros.

A colonização da região oeste catarinense esteve ligada à atuação das companhias colonizadoras e caracterizou-se, basicamente, pela venda de terras a colonos rio-grandenses e pela exploração dos recursos naturais locais.

Os colonos rio-grandenses eram considerados “ideais”. Pois possuíam grande experiência com as lidas na terra e o público-alvo eram os teuto e ítalo-brasileiros, os quais já haviam demonstrado grande capacidade de colonizar.


As autoridades catarinenses enxergavam com bons olhos a introdução dessa mão-de-obra migrada, uma vez que vinha ao encontro de um projeto de integração progressista regional, responsável pela formação de trabalhadores ordeiros.


Além da comercialização das terras, as companhias colonizadoras deram continuidade no ramo madeireiro, ramo que também ocorrera anteriormente no processo de colonização do Rio Grande do Sul.


As atividades em torno da madeira contemplavam, entre outras funções, a contratação de imigrantes da Europa. Esses imigrantes, na sua grande maioria pessoas com nível de instrução profissional alto, com formação em engenharia, além de cuidar das questões comerciais em torno da terra estavam responsabilizados pela comercialização das madeiras e todos os trâmites ligados a essa atividade.

Como podemos perceber, não somente na região Sul do Brasil estiveram os imigrantes italianos, mas foi uma corrente imigratória de notória expressividade no Brasil. Ocuparam praticamente todas as regiões do país, até mesmo locais longínquos como o Amazonas.

A influência da cultura e da presença italiana está expressa, entre outras coisas, na grande quantidade de sobrenomes italianos existentes no Brasil.

Quer seja por meio da culinária, da arquitetura ou dos costumes, quem já visitou o Sul do Brasil, percebe que a região exala cultura italiana. Em Santa Catarina são mais de 3 milhões de italianos e descendentes, sendo estes quase metade da população. Surpreendente, não é mesmo? É por essas e outras que a cultura se vê muito bem preservada, tanto na culinária quanto na linguagem e nos costumes.

“Talvez seja única, na história das migrações humanas, na época moderna, a transferência da Itália para outro país de mais de um milhão de homens, em menos de vinte anos.” (CENNI, 1975, p. 176)

E para convidar você a mergulhar nessa cultura belíssima, destacamos algumas das principais festas italianas realizadas por aqui.

FESTA DO VINHO

Se você quer conhecer a cultura italiana de Santa Catarina, não deixe de visitar Urussanga na Festa do Vinho. O evento é realizado pela prefeitura local. A Festa do Vinho costuma promover a reunião de tudo que um bom italiano gosta: gastronomia, boa música e é claro, muito vinho.

A festa acontece apenas nos anos pares e no mês de agosto. Oferece shows locais e nacionais, degustação de vinhos, desfiles e coroação das princesas e da rainha da Festa do Vinho.

FESTITÁLIA

Outra manifestação cultural italiana em Santa Catarina é a Festitália. É simplesmente a maior festa italiana de todas. A festa, que dura 10 dias reúne a gastronomia típica do país no Parque Vila Germânica em Blumenau. A Festitália costuma reunir cerca de 5 mil pessoas por dia.

As atrações são incomparáveis. Apresentam-se vários cantores, bandas e chefs vindos diretamente da Itália. Um exemplo da última edição foi a cantora internacional Patrizia Laquidara e o Grupo Amacord, vindos diretamente de Bolonha.

Por Roberto Castilho Bauer