O CORDEL E A RAINHA *Massilon Silva

Os sete reis de Roma foram, pela ordem, Rômulo, Numa Pompílio, Túlio Hostilho, Anco Márcio, Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Tarquínio "O Soberbo". Nenhuma rainha. Nenhuma até a chegada de uma cearense arretada que há 15 anos aportou no país da loba que amamentou o primeiro soberano, invadiu e movimentou a cena cultural da cidade italiana de Bréscia e lá construiu um império conquistado com a simplicidade, alegria contagiante, capacidade de liderança e uma determinação sem limites de divulgar o Brasil e suas potencialidades culturais, por meio de um trabalho que vem num crescendo nos últimos anos, com frutos que começam a ser colhidos em profusão.

 Um dia, conduzido pelas mãos do poeta Assis Oderon e pelo milagre da rede mundial de computadores conheci Sandra Bandeira Nolli, é este o seu nome, com quem travei conversa amistosa, e assim continuamos, tratando das coisas do Brasil até o nascimento de uma amizade que resultou em parceria, quando a brasileira de Fortaleza e italiana de Bréscia conheceu meu trabalho com o cordel e propôs a realização de um projeto conjunto para divulgar em um primeiro momento, e depois implantar a literatura de folhetos na terra de Júlio César e Marco Antonio.

 Nosso trabalho, dela em especial, passaria pela apresentação da literatura de cordel aos italianos, tradução de obras para o idioma local, participação de cordelistas brasileiros em concursos literários e uma coluna semanal no Portal Conexão Itália Brasil falando sobre cordel que permaneço escrevendo, cujas crônicas serão reunidas em livro no início de 2020.

 Dessa parceria e da luta incansável da brasileira nasceu o livro Brixia Brasil em Versos, título em português, lançado com grande sucesso na Itália e que recebeu o Prêmio Conessione Itália Brasile por ocasião do Web Music Italian Fest, em Bréscia, no dia 18 de outubro próximo passado. A obra, toda ela em cordel, ressalta as belezas e comparações entre as cidades de Bréscia na Itália e Fortaleza no Brasil, dele constando ainda um texto nosso sobre a cidade alagoana de Pão de Açúcar. Por ocasião do evento, Sandra que é jornalista e escritora, fez questão de enfatizar que seu esforço "tem por objetivo principal apresentar na Itália as novas tendências artísticas, novos talentos, vertentes culturais dos respectivos países além dos confins nacionais.

 E para quem, como eu, sentiu a falta de uma rainha nos primórdios de Roma, aí está para suprir a necessidade de uma soberana imperial dos tempos idos a Rainha de Bréscia, que será num futuro próximo também Rainha do Cordel Italiano.

       Sandra está em visita ao Brasil e não seria nenhum exagero dizer que veio para tornar o Natal de Fortaleza mais iluminado. Como reconhecimento pelo seu trabalho vem sendo alvo de assédio por parte da imprensa local, além de receber várias homenagens preparadas por seus conterrâneos. Dentre as honrarias recebidas, uma em especial ocorreu por ocasião da confraternização dos escritores, trovadores e artistas cearenses. Na oportunidade foi agraciada com o título de preito de gratidão por ser a criadora do projeto literário ítalo-brasileiro exatamente pela publicação da obra Brixia Brasil em Versos. A solenidade teve lugar na Casa de Juvenal Galeno, na capital cearense e, nas palavras de Antonio Santiago Galeno Júnior " pelos seus relevantes serviços prestados a esta Casa e à cultura cearense". A solenidade, que contou com a presença do cordelista Cel. Andrade, fundador da Escola Militar do Ceará, homenageou ainda o Dr. Antônio Santiago Galeno Junior, diretor da Casa de Juvenal Galeno e as escritoras Francinete de Azevedo Ferreira e Ana Maria Nascimento, representantes da ala feminina daquele sodalício.
Outras homenagens estão programadas para este final de ano e início do próximo, culminando com o lançamento da edição brasileira de Brixia Brasil em Versos, que acontecerá às 18 horas do dia 04/01/2020 na sede do Instituto Cultura Italiana, também na cidade de Fortaleza. A obra será alvo de premiação e sua maior responsável, a jornalista Sandra Bandeira Nolli, receberá a condecoração com toda pompa e circunstância.
Diante de tudo isso só resta à cultura nordestina e ao cordel em particular, renderem suas homenagens à rainha, esperando que outros trabalhos sejam produzidos com a força e dedicação que lhe são próprias.

Por*Massilon Silva Escritor e poeta, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.