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TAPETE VERMELHO * Massilon Silva



O cordel, quem diria!, desfilando em tapete vermelho. A frase poderia parecer fora de contexto, se aqui estivéssemos tratando de uma premiação das melhores e/ou maiores obras recordistas de tiragem e de público leitor, no universo das produções literárias do ano, porém, adequa-se ao fato de que ele - o cordel, ele mesmo, neste 2019 continua "nadando a braçadas, " para  usarmos mais uma frase de efeito. Vamos aos fatos.

Quem compareceu ou acompanhou pela televisão a Bienal do Livro de Fortaleza, realizada nesta última semana, teve a satisfação de presenciar um acontecimento fora dos padrões normais até então. Falo da exposição pública de dezenas de milhares de livros de cordel ou a ele dedicados, num ambiente relativamente novo para essa manifestação cultural, mesmo considerando o fato de ser aquele estado da federação o berço cordeliano por excelência e abrigar, ainda hoje, os maiores nomes do seguimento, reconhecidos no Brasil e no mundo. Foi uma verdadeira consagração.

Outros eventos prometem levar o cordel ao grande público e ao crivo da crítica especializada. Estamos falando da V Bienal do Livro de Itabaiana a ter lugar na primeira semana de setembro na cidade do mesmo nome, em Sergipe, quando, além da exposição em stands exclusivos, logo na abertura contaremos com a presença do cordel pelas mãos da cordelista Izabel Nascimento, presidente da Academia Sergipana de Cordel - ASC, mestre incontestável na arte de declamar. Ainda no mesmo evento haverá o lançamento de um livro de cordel que pretende contar parte da vida e obra da Irmã Dulce, que em 13 de outubro será entronizada no panteão celeste com o título de Santa Dulce dos Pobres. O esperado lançamento dar-se-á no dia do encerramento da Bienal, durante palestra que será proferida por um dos seus autores. Já a Bienal do Livro de Alagoas, em Maceió no mês de novembro, contará com novidades na área sob a liderança da Academia Alagoana de Literatura de Cordel - AALC, que promete uma presença marcante com o apoio de seus membros e a batuta do incansável Ciro Veras, seu presidente e figura propulsora da cultura naquele Estado. Grande número de trabalhos individuais e coletivos virá a público na oportunidade.

Deixando agora os grandes palcos, dois acontecimentos infinitamente menores mas de não  menos importância merecem destaque. O primeiro, registre-se, foi a inauguração de uma Cordelteca. Não o fato em si, porque já se tornou corriqueiro, mas pelo ambiente, a Escola Municipal Deputado Lourival Baptista na próspera cidade de Boquim, em Sergipe. A cordelteca Foco no Cordel, este é o nome, é o resultado de um hercúleo trabalho desenvolvido pela cordelista e professora Ana Reis, baluarte do cordel no Estado. A inauguração, também na semana findante, contou com a presença de Renilson Lima, proprietário em Aracaju da DATAGRAPH, que lidera o mercado editorial do cordel em Sergipe.
Outro lugar de destaque mereceu nesta última quadra de agosto o concurso realizado pela Associação Cultural Cordel Improvisado com a divulgação do resultado final do II Concurso On-line Cordel Improvisado, que teve entre os vencedores cordelistas de peso como Jerson Brito, de Porto Velho - RO, em primeiro lugar; Isabel Maia, de Paulista - PE, em segundo; e, Marciano Medeiros, de Santo Antonio - RN, em terceiro.
Muito embora não se possa dizer que o concurso foi efetivamente de cordel, o que é uma pena, verdade é que proporcionou visibilidade aos cordelistas e à própria instituição, com sede em Pernambuco. Para que tenhamos uma ideia de a quantas anda o cordel, basta ver que o primeiro colocado foi um poeta de Rondônia, estado que até agora não figurava entre os mais atuantes na arte das histórias contadas em versos com métrica, rima e oração, regras fixas e rígidas do cordel.
O concurso, para que fique claro, premiou poesias de bancada escritas em décimas glosadas, mas espera-se que nos próximos certames seja privilegiada a literatura de cordel, inclusive para fazer jus ao nome da Associação.
Uma das mais importantes manifestações artísticas do planeta, porém, não tem acompanhado a evolução do cordel e vice-versa - o teatro. Em nosso modo de vista os escritores de cordel, e é assim que os vejo, como escritores, precisam urgentemente começar a escrever suas histórias visando os palcos, as encenações, como tão bem o fez Ariano Suassuna com retumbante sucesso, chegando, inclusive à tela grande. Afinal de que trata o verdadeiro cordel, que não de contar histórias, de romancear o cotidiano? E o que faz o teatro que não representar no palco as histórias contadas, sejam elas ficcionais ou simplesmente adaptadas do real? Com a palavra os cordelistas.
Pois bem. Pensemos juntos e passemos do pensar ao agir para que no dia em que o cordel chegar ao teatro e ao cinema possamos dizer em alto e bom som "haja tapete vermelho".

*Escritor e cordelista, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.