Cultura
Sem ética, sem poesia Sem amor, sem esperança
Enfim, nasce o ser humano
E ao descortinar a vida
Afanado em cada lida
Segue a sina, todo ano
Viver feliz é seu plano
Nesta luta não se cansa
Mesmo tendo temperança
Por vezes padece um dia
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
Sua condição, decerto
Inerente a tal postura
No seu palmilhar, perdura
Entre o errado e o certo
E, se busca ser esperto
Êxito nem sempre alcança
Qualquer ato na balança
Tem o peso e a valia
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
Munido pela a razão
De tal sorte, consciente
Ei-lo, pois, distintamente
A cumprir sua missão
Contudo, sem direção
Por muitas vezes avança
E não lembra aventurança
Nem a vã filosofia
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
Nessa ânsia rotineira
Onde vencer é o lema
A figura do sistema
Incide desde a primeira
Hora, até a derradeira
E impiedosa se lança
Qual seja adulto ou criança
De fato, se contraria
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança.
Cansado segue o caminho
Galgando as vicissitudes
Sequioso de virtudes
Pisando pedra e espinho
Muitas vezes tão sozinho
Desejoso de bonança
Espera de sua andança
Uma margem mais sombria
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
Embora seja dotado
De tanto conhecimento
Não usa discernimento
Por não lhe causar agrado
Pelo ato praticado
Amarga desconfiança
Chega a não ter semelhança
Com quem tem sabedoria
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
Na corda bamba da vida
Equilíbrio, pois, não há
Cai aqui, se ergue lá
E nesta luta comprida
Acaba sem ter guarida
Com o pesar na lembrança
Exaurido, não descansa
Mas, no alarde silencia
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
De modo pretencioso
No calor do seu intento
Usa até de sentimento
Insolente ou presunçoso
Julgando-se corajoso
Posterga sua aliança
E para ter vida mansa
Na fartura se esvazia
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
Qual discreta compostura
Emoldurada ou singela
Mistura-se à bagatela
E empobrece a criatura
Tanto gesto de feiura
Não merece ter fiança
Instiga ira e vingança
Desfigura a simpatia
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
No descompasso iminente
Cuja a face ao desprazer
Deixa, enfim, transparecer
O desalento, somente
O ego enfim, já não sente
Brilha sem reverberança
O âmago não tem pujança
O estro em si se refugia
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança.
Ávido, por sua vez
Alheio à sobriedade
Confunde-se à vaidade
Carece de sensatez
Não pratica a honradez
Que lograra como herança
Com soberba ou cavilança
Pois, desdenha a cortesia
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
Quantos atos, entretanto
Numa renhida disputa
Amarga sua conduta
Causando tamanho espanto
Qual notável desencanto
Permeia com esquivança
Tão breve a desconfiança
Impostora, contagia
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
Buscando satisfação
Vislumbra seu patamar
Negando-se a enxergar
Embora tenha visão
Seguindo na contramão
Desafeito à mudança
Jamais foge da cobrança
Que logo vem, todavia
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
Qual intento contumaz
Confunde seu proceder
Acredita conhecer
Mas, se mostra incapaz
E quando não acha paz
De si não tem liderança
Presta-se a qualquer lambança
O fracasso principia
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
Desta forma, amalgamada
Compõe-se a vida, porém
Falta a muitos, poucos tem
Uns esbanjam, outros, nada.
Nessa peleja fadada
À incerteza ou nuança
Urge ter perseverança
Para a própria serventia
Sem ética sem poesia
Sem amor, sem esperança
Qual distinto cumprimento
Pois sufoca enquanto ofega
Mas, quem a ele se nega
Desfruta grande provento
Por gozar de entendimento
É fiel, tem confiança
Não espera a contradança
Nem caminha à revelia
Sem ética, sem poesia
Sem amor, sem esperança
Autor: Abelardo Nogueira