Cultura
Massilon Silva
NOVOS RUMOS PARA O CORDEL *Massilon Silva
NOVOS RUMOS PARA O CORDEL Massilon Silva
Esta coluna daria início hoje a uma série de matérias enfocando a história do cordel no Brasil, começando por seu desembarque em terras nordedtinas pelas mãos e competência de seu mais lídmo representante, o poeta Leandro Gomes de Barros, até os dias andantes. Alguns fatos, por demais relevantes e dignos de urgente divulgação, em nosso entender, fizeram com que a ideia fosse postergada. Esses acontecimentos, todos eles levados a efeito na semana findante, mobilizaram os cordelistas, adeptos da arte, além de instituições públicas e privadas, alcançando um público contado na casa dos milhões. Tratemos deles pois.
O primeiro destaque vai para a Editora e Cordelaria Castro, da cidade de Petrolina, Pernambuco, com o lançamento de uma Coletânea de Cordel, o que hodiernamente convencionou-se denominar Cordel Coletivo. Importante destacar que não concordamos com tal denominação, pois um cordel (e não uma reunião de cordéis) na verdadeira acepção do termo, seria uma história no formato cordeliano, elaborada a quatro ou mais mãos, isto é, em coautoria, como acontece na música, teatro e em alguns casos, raros diga-se de passagem, na literatura.
Deixemos por ora de lado essas considerações conceituais e passemos ao ponto positivo da iniciativa. No caso em tela, trata-se de uma obra de conteúdo significativo e concepção artística impecável. A publicação dessa modalidade de livro é, acima de tudo, uma maneira de difundir a cultura e proporcionar visibilidade aos autores, além de promover meios de reembolso financeiro. Aplausos para a Editora e Cordelaria Castro.
Na mesma seara e com alguma variação executória destaca-se o trabalho intitulado Um Encanto de Cordel, da Cartola Editora, de São Paulo. Ali temos uma obra mais robusta, ainda na modalidade coletânea, porém os escritos reunidos são o resultado de um criterioso trabalho de seleção, visando um resultado de maior apelo comercial, pois organizado e produzido pela própria editora, longe pois da sofrida e sempre cambaleante produção independente. Outra novidade trazida pela Cartola é que as produções de livros de cordel ingressaram no moderno e revolucionário mundo do Financiamento Coletivo e que, já neste caso concreto, está mostrando um resultado positivo. Certo é que, em menos de 15 dias de campanha, já se arrecadou junto aos apoiadores do projeto, mais de 70% do total necessário à produção. É o cordel se libertando dos barbantes, invadindo as ruas, as escolas, as bancas e as livrarias, inclusive as mais conceituadas. O céu continua do avião mas todas as Praças Castro Alves são do cordel (Alô, Caetano!
Uma terceira vertente é a que se apresenta de maneira altamente positiva no âmbito das instituições públicas que gozam do maior prestígio no país, com atividades efetivas e de promoção da literatura de cordel a nível nacional, além de ser uma demonstração de acolhimento em seu seio e reconhecimento do valor que ela tem. Vamos a ela.
A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro promoveu um concorrido concurso de cordel, ao qual acorreram escritores de várias partes do Brasil. Ao final de uma rigorosa seleção seis poetas foram classificados, cabendo a três deles (1°, 2° e 3° lugar) a premiação. A este colunista coube o segundo lugar com o romance A MÃE D'ÁGUA E O TURISTA ; Zé Salvador, cordelista de São Gonçalo/RJ levou o primeiro troféu. O evento de promulgação do resultado final, entrega de certificados e prêmios outros ocorreu no dia primeiro deste mês nas dependências da Biblioteca Municipal Anita Porto Martins, da capital fluminense.
Ponto para a cidade do Rio de Janeiro ; ponto para os cordelistas; ponto para o Cordel e para a cultura popular.
Entremos agora no último e quiçá mais importante dos acontecimentos. O Ministério Público de Alagoas promove durante todo este mês de agosto a campanha educativa que traz por título Agosto Lilás, que abraça a luta pelos direitos da mulher abordando o tema da violência doméstica e focando nos pontos que interpreta como "sinais de um relacionamento abusivo". A campanha consta de uma divulgação eficiente nos fóruns de justiça, repartições públicas, nas ruas, em todas as mídias, palestras e ajuntamentos em geral. Este movimento, calcado numa divulgação ostensiva, alcança milhões de pessoas no Estado e outros milhões por todo o Brasil e exterior, considerando a ilimitada abrangência das mídias atuais.
O "Agosto Lilás" começou com o lançamento da campanha no centro da capital Maceió e se estenderá até o último dia do período (31/08), com apresentações formais nas maiores cidades de Alagoas.
O leitor perguntará "o que tem o Ministério Público e sua campanha com este artigo?" e eis a resposta: Todos os textos dos cartazes, livretos distribuídos em profusão e até mesmo as inserções no rádio e TV, foram redigidos em linguagem de cordel. Caso não lhes pareça muito, considere o fato de que a literatura de cordel entrou pela porta da frente, de uma banda, logrando a simpatia, adesão e aplausos de uma parcela da sociedade acostumada até então a outras formas literárias e, da outra, o acolhimento pela grande massa popular que diariamente está recebendo as informações veiculadas pela mídia em todos os seus níveis. Estamos falando de milhões de pessoas; muitos milhões.
E agora atentem para esta notícia que chega no momento em que estamos no fim destas mal traçadas linhas. O Estado de Alagoas lançou hoje - Edital n° 08/2029 - o I CONCURSO DE POESIA DE CORDEL, no âmbito da Secretaria de Estado da Cultura - SECULT, com prêmios em dinheiro que vão de R$-2.500,00 para o terceiro colocado a R$-4.500,00 para o primeiro.
Melhor momento impossível, mas outros virão.
Longa vida ao cordel é o que se prenuncia.
Por: Massilon Silva
*Escritor e poeta, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.